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| Biblioteca do século XXI: desafios e perspectivas |
| Organizadores: Anna Carolina Mendonça Lemos Ribeiro, Pedro Cavalcanti Gonçalves |
Notas
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| Biblioteca do século XXI (Original) |
| http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/7426/1/Biblioteca%20do%20s%C3%A9culo%20XXI_desafios%2... |
| BIBLIOTECONOMIA - INOVAÇÃO |
| 116_Biblioteca_do_seculo_21-Notas.pdf |
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Inovação - biblioteconomia - bibliotecas - biblioteca
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CAPÍTULO 1
O PERFIL DAS BIBLIOTECAS CONTEMPORÂNEAS Marta Lígia Pomim Valentim Cabe a essas bibliotecas começar a recorrer aos recursos para fazerem-se necessárias aos seus usuários. Se não se tornarem um organismo vivo na instituição, certamente fecharão suas portas. Introdução, p.13 As bibliotecas vêm se tornando espaços de conhecimento, cujo reconhecimento social tem aumentado significativamente. Marta Lígia Pomim Valentim, p.19 Em relação aos desafios contemporâneos, pode-se citar as novas formas de ensino-aprendizagem, que são: cursos a distância, salas de aula virtuais, materiais didáticos e científicos em repositórios institucionais; a interação com as tecnologias de informação e comunicação (TICs) móveis, por exemplo, o tablet, o smartphone; as novas formas de mediação relacionadas às necessidades/demandas da sociedade em rede; o desenvolvimento da competência em informação no público usuário, para que saibam manejar a informação no ambiente eletrônico e digital; o acesso aberto (open access) e gratuito à informação (copyleft); entre outros. Esses são desafios que exigem uma nova maneira de atuar, um novo papel a cumprir junto ao público usuário. A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF/1988) apresenta em seu art. 3o o seguinte texto: “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional”, e em seu art. 5o: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XIV - é assegurado a todos o acesso à informação” (Brasil, 1988). Nessa perspectiva, apesar de as bibliotecas não terem sido citadas diretamente, quando se destaca que é assegurado a todos o acesso à informação, as bibliotecas têm uma responsabilidade social perante à sociedade. Targino (2004, p. 9) afirma que “A informação é direito social de todos. É um bem comum que pode e deve ser partilhado por todos, indistintamente”. Marta Lígia Pomim Valentim, p.20 No cenário nacional pode-se destacar o Projeto de Lei (PL) no 28/2015, em tramitação no Senado Federal, que institui a Política Nacional de Bibliotecas. Em seu art. 3o estabelece que, é dever da administração pública, em todas as suas instâncias: I) garantir a construção, a preservação e a difusão pluralista das culturas, dos saberes, das artes e das ciências; II) favorecer a construção da identidade social dos cidadãos; III) gerir e colocar à disposição dos cidadãos os bens simbólicos de que trata esta lei (Brasil, 2015b). Marta Lígia Pomim Valentim, p.21 Também em tramitação na Câmara dos Deputados, há o PL no 3.727/2012 e o PL no 6.959/2013, que estabelecem critérios para a instalação de pelo menos uma biblioteca pública em cada município do país (CFB, 2015). Marta Lígia Pomim Valentim, p.21 O Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), instituído pela Portaria Interministerial no 1.442, de 10 de agosto de 2006, e regulamentado pelo Decreto no 7.559, de 1 de setembro de 2011, abriga um conjunto de programas e projetos na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas (Brasil, 2011b). O PNLL estabelece As diretrizes para uma política pública voltada à leitura e ao livro no Brasil (e, em particular, à biblioteca e à formação de mediadores), (...) levam em conta o papel de destaque que essas instâncias assumem no desenvolvimento social e da cidadania e nas transformações necessárias da sociedade para a construção de um projeto de nação com uma organização social mais justa. Elas têm por base a necessidade de formar uma sociedade leitora como condição essencial e decisiva para promover a inclusão social de milhões de brasileiros no que diz respeito a bens, serviços e cultura, garantindo-lhes uma vida digna e a estruturação de um país economicamente viável (Caderno..., 2014). Marta Lígia Pomim Valentim, p.21 Para a International Federation of Library Associations and Institutions e a The United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (Ifla e Unesco, 1994), os valores fundamentais de uma sociedade somente serão atingidos quando os cidadãos tiverem acesso à informação que lhes possibilite exercer os direitos democráticos. Para tanto, a participação construtiva e o desenvolvimento da democracia dependem tanto de uma educação de qualidade, quanto do acesso livre ao conhecimento, ao pensamento, à cultura e à informação. A biblioteca pública – porta de acesso local ao conhecimento – fornece as condições básicas para uma aprendizagem contínua, para uma tomada de decisão independente e para o desenvolvimento cultural dos indivíduos e dos grupos sociais (Ifla/Unesco, 1994, p. 1). Marta Lígia Pomim Valentim, p.23 O Plano Nacional de Educação (PNE), elaborado para uma vigência de dez anos, regulamentado pela Lei no 13.005, de 25 de junho de 2014, define algumas metas e estratégias de ação que envolvem as bibliotecas escolares. Meta 6: oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% (vinte e cinco por cento) dos(as) alunos(as) da educação básica. 6.3) institucionalizar e manter, em regime de colaboração, programa nacional de ampliação e reestruturação das escolas públicas, por meio da instalação de quadras poliesportivas, laboratórios, inclusive de informática, espaços para atividades culturais, bibliotecas, auditórios, cozinhas, refeitórios, banheiros e outros equipamentos, bem como da produção de material didático e da formação de recursos humanos para a educação em tempo integral; 6.4) fomentar a articulação da escola com os diferentes espaços educativos, culturais e esportivos e com equipamentos públicos, como centros comunitários, bibliotecas, praças, parques, museus, teatros, cinemas e planetários; Marta Lígia Pomim Valentim, p.24 7.20) prover equipamentos e recursos tecnológicos digitais para a utilização pedagógica no ambiente escolar a todas as escolas públicas da educação básica, criando, inclusive, mecanismos para implementação das condições necessárias para a universalização das bibliotecas nas instituições educacionais, com acesso a redes digitais de computadores, inclusive a internet (Brasil, 2014, grifos nossos). Destaca-se, também, a Lei no 12.244, de 24 de maio de 2010, que dispõe sobre a universalização das bibliotecas nas instituições de ensino do país (Brasil, 2010). Contudo, Silva (2011) acredita que há sérias deficiências conceituais e conteudísticas na referida lei, tanto no que se refere à caracterização da biblioteca escolar, quanto à sua consolidação, uma vez que não prevê sansões no caso do não cumprimento da lei. Marta Lígia Pomim Valentim, p.25 Quando o Google anunciou ainda em 2004, que iria digitalizar cerca de 15 milhões de livros de bibliotecas norte-americanas e britânicas, com a finalidade de criar a maior biblioteca digital do mundo, o mercado editorial e os diretores de bibliotecas ao redor do mundo reagiram imediatamente. Questionava-se então, o que uma empresa poderia fazer ao assumir o controle desta enorme quantidade de informação. Seria então, o nascimento do maior monopólio do conhecimento existente na história e a possível extinção das bibliotecas? Ou, a concretização do sonho mítico da biblioteca universal? (Assunção e Reis, 2012, p. 1). Nessa perspectiva, as bibliotecas devem - por meio de seus representantes - se engajar na discussão sobre o copyright (a informação é considerada uma mercadoria, e para adquiri-la e/ou acessá-la é necessário pagar para tê-la) e o copyleft (a informação é considerada um bem público, e para adquiri-la e/ou acessá-la não é necessário pagar por ela). Na primeira situação, as editoras comerciais e universitárias, os bancos e as bases de dados se constituem detentores dos direitos sobre os conteúdos produzidos; na segunda situação, o conhecimento gerado por pesquisadores, docentes, discentes e indivíduos de qualquer segmento: científico, tecnológico, cultural, artístico etc. é de livre acesso (open access). A democratização do acesso ao conhecimento é possível, a partir do armazenamento em repositórios institucionais dos conteúdos produzidos, desde que abertos a toda a sociedade. No entanto, ressalta-se que nem sempre os repositórios institucionais são abertos à sociedade em geral, muitas vezes apenas a comunidade universitária ou especializada tem acesso aos próprios conteúdos gerados, e isso ocorre frente à situação vivenciada atualmente, qual seja, publicar ou perecer (publish or perish), realidade enfrentada por pesquisadores de todas as áreas do conhecimento, e resultado de políticas nacionais de informação científica, com reflexo acadêmico-administrativo nas instituições de ensino superior e de pesquisa. Marta Lígia Pomim Valentim, p.28 Para tanto, não basta enfocar apenas a preservação de conteúdos, mas também a representação desses conteúdos. As tecnologias atuais requerem compartilhamento de dados, por essa razão, representar os conteúdos por meio de protocolos que propiciem a cooperação de dados em redes de computadores é essencial. Além disso, a análise dos diferentes conteúdos distribuídos em acervos e coleções necessita ajustar-se ao ambiente web, cujas possibilidades são múltiplas. Aplicar taxonomias, folksonomias e ontologias é essencial para que o público usuário possa de fato recuperar a informação de que necessita. Ainda no que tange ao acesso e à recuperação, a implementação de tecnologias assistivas para portadores de necessidades especiais é fundamental. Marta Lígia Pomim Valentim, p.38 --------------------------- CAPÍTULO 2 INOVAÇÃO EM BIBLIOTECAS Viviana Fernández Marcial A biblioteca, nos dias de hoje, assiste a uma mudança de orientação, foco e perspectiva. Resnick (2014) situa-nos de maneira precisa em um retrato do que é a biblioteca do século XXI: Esqueça o que você sabe sobre a biblioteca do século XX. Você sabe, aqueles lugares escuros com máquinas antigas de microfilmagem, ultrapassadas, oxidando no porão e com fileiras de enciclopédias, perfeitamente organizadas em ordem alfabética (...). A biblioteca como um armazém de informação é um conceito antiquado. A biblioteca do século XXI é uma oficina comunitária, um espaço cheio de ferramentas de economia do conhecimento (Resnick, 2014, p. 1, tradução nossa). Diante desse novo panorama, a inovação surge como elemento decisivo na gestão da biblioteca e deve ser entendida como um fator de sobrevivência. Viviana Fernández Marcial, p.43 Nesse contexto, nos últimos anos, tem havido acentuado interesse na ideia de inovação nas bibliotecas, verificado não apenas no aumento de publicações e iniciativas científicas no domínio das bibliotecas públicas, nacionais e universitárias, mas também nos prêmios promovidos por várias entidades que reconhecem o papel da inovação. Alguns dos exemplos são - no caso do Brasil - o prêmio Boas Práticas e Inovação em Bibliotecas Públicas, promovido, em 2014, pela Fundação Biblioteca Nacional (FBN), por meio da Diretoria do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (DLLLB) e do Sistema de Biblioteca Pública Nacional (SNBP). Viviana Fernández Marcial, p.44 O conceito de inovação tem sido definido por vários autores. Scupola e Nicolajsen (2010) fizeram uma revisão detalhada das várias contribuições. Uma definição completa aparece no Manual de Oslo, de OCDE/Eurostat: Uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas (OCDE/Eurostat, 2006, p. 56, tradução nossa). Rowley (2011, p. 253) coloca a tônica na inovação como um processo, uma ideia presente em Baregheh, Rowley e Sambrook (2009, p. 14, tradução nossa), definida como "processo de múltiplas etapas pelas quais as organizações transformam ideias em novos ou aperfeiçoados produtos, serviços ou processos, a fim de avançar com sucesso e competir e diferenciar-se em seu mercado". É igualmente enriquecedor abordar o conceito de inovação a partir da vertente oposta: dizer o que não é a inovação em bibliotecas. O Manual de Oslo (OCDE/ Eurostat, 2006, p. 68-69) define variações ou alterações que não devem ser consideradas inovação. Lozano-Diaz (2008) explica seu ponto de vista no contexto das bibliotecas públicas, mas esse ponto de vista pode ser transposto para outros tipos de bibliotecas. Viviana Fernández Marcial, p.45 As alterações ligadas às tecnologias e à promoção da cultura de colaboração e aprendizagem compartilhada conduzem para uma verdadeira transformação nessa questão, sendo que as tendências mais relevantes são os chamados makerspaces e learning commons. Viviana Fernández Marcial, p.52 E, nesse contexto, quais são as possíveis linhas de ação para a inovação? Zeeman, Jones e Dysart (2011) - no trabalho Assessing innovation in corporate and government libraries - identificaram algumas tendências que incluem a criação de biblioteca digital, para incluir documentos internos e externos da organização, a digitalização de documentos de baixa demanda e a reconfiguração do espaço. Viviana Fernández Marcial, p.55 Portanto, a inovação não é uma soma de alterações ou modificações, mas deve ser parte da máquina da biblioteca e estar integrada aos sistemas de gestão implementados na organização, como a gestão da qualidade e o marketing. Viviana Fernández Marcial, p.56 --------------------- CAPÍTULO 3 AS NOVAS COMPETÊNCIAS DO PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO BIBLIOTECÁRIO: REFLEXÕES E PRÁTICAS Danielle Thiago Ferreira Para compreender as competências do bibliotecário, buscou-se entender o termo competência, que surgiu no início da década de 1970, no âmbito empresarial, para designar o que caracteriza uma pessoa capaz de realizar determinada tarefa real de forma eficiente (Zabala e Arnai, 2010). Danielle Thiago Ferreira, p.79 Para Silva (2011), estudar os conceitos de competência é essencial para perceber a amplitude e abrangência da expressão, suas percepções psicológicas, educacionais e sociológicas, alinhadas à percepção do mercado atual. Ou seja, é uma forma de se preocupar com o que está sendo desenvolvido e quais as competências presentes, além de ser uma maneira de tentar visualizar as necessidades futuras da profissão e de seus meios de atuação. Pois, corroborando com Levy (1999, p. 157), "pela primeira vez na história da humanidade a maioria das competências adquiridas por uma pessoa no início de seu percurso profissional estarão obsoletas no fim de sua carreira". Danielle Thiago Ferreira, p.80 Por falar em ativos e ambientes da profissão, existem fenômenos os quais o bibliotecário também precisa acompanhar, que são: as tecnologias da informação e comunicação (TICs) e o fenômeno da cibercultura, ou a ansiedade do instantâneo digital, com a popularização da internet. Tendo em vista essas afirmações, e mais o fenômeno da globalização, surgem novos conceitos e saberes que desafiam o trabalho do bibliotecário, como a competência informacional (information literacy). Danielle Thiago Ferreira, p.85 Finalmente, destacamos as iniciativas da Biblioteca da Área de Engenharia e Arquitetura (BAE) da Unicamp, que instituiu um núcleo de ações pedagógicas, sob responsabilidade de bibliotecários doutores nas áreas de educação e ciência da informação, que trabalham sob a perspectiva do bibliotecário educador. Ou seja, a equipe de bibliotecários dessa biblioteca, além de participar ativamente e ministrar conteúdos nas disciplinas de metodologia científica, tanto na graduação como na pós-graduação, em parceria com os professores dessas disciplinas das faculdades das engenharias da Unicamp, também desenvolvem atividades de incentivo à leitura e à cultura no âmbito da biblioteca, por exemplo, com exposições temáticas, concursos literários, saraus, materiais educativos e outros. Danielle Thiago Ferreira, p.88 Como exemplo internacional, a American Library Association (ALA) lançou recentemente a campanha Libraries Transform, com o objetivo de aumentar a consciência pública do valor, do impacto e dos serviços oferecidos por bibliotecas e seus profissionais. Nela, são mencionadas as principais tendências para o futuro das bibliotecas, por exemplo, a internet das coisas e a biblioteca como makerspace, entre outros. Danielle Thiago Ferreira, p.88 Como outros exemplos de iniciativas inovadoras internacionais em bibliotecas, apresenta-se o levantamento da pesquisa de Jerônimo (2015, p. 35, com adaptações nossas). Assim foram apresentados os seguintes projetos: 1) Harvard Library Lab (Estados Unidos): projeto Library Innovation Podcasts (série de entrevistas com bibliotecários inovadores); 2) Vancouver Public Library's (Canadá): projeto Inspiration Lab (laboratório de inovação na biblioteca); 3) The Fashion Library (Amsterdã): biblioteca que empresta roupas; 4) Cambridge University Library (Inglaterra): projeto Library Collections (a biblioteca reúne coleções da comunidade); 5) Human Library Organization (diversos países): projeto de aprendizado por meio das histórias de pessoas; 6) Biblioteca Pública de Kista (Estocolmo): vencedora do prêmio Public Library of the Year Award 2015 (biblioteca pública mais inovadora); 7) Biblioteca das Coisas (Estados Unidos): bibliotecas públicas dos Estados Unidos emprestam até varas de pescar para a comunidade; 8) Bibliotecas incomuns: iniciativas inovadoras pelo mundo (http://bit.ly/1BJKv1X); 9) Bibliotecas como "makerspaces": espaços de inovação (http://bit.ly/1RydpZs); 10) Design Thinking para Bibliotecas: projetos dos bibliotecários thinkers (http://bit.ly/1PconpE); 11) Crowdsourcing em bibliotecas: bibliotecas colaborativas (http://bit.ly/1PpnMQ6). Danielle Thiago Ferreira, p.89 ------------------- CAPÍTULO 4 BIBLIOTECAS DE CENTROS DE PESQUISA NO SÉCULO XXI: DESAFIOS E PERSPECTIVAS Carlos Miguel Tejada Artigas A ACRL (2015, p. 3-5) recentemente também tem enfatizado a necessidade de preservar coleções de livros digitais e da aquisição de canais de streaming de vídeo e áudio. Carlos Miguel Tejada Artigas,p.104 Atualmente, o espaço não tem um papel tão importante em uma biblioteca de caráter predominantemente digital; essas unidades já não são estruturadas em torno de uma coleção impressa, mas sim de alguns serviços em que o usuário é o protagonista (Appleton e Stevenson, 2011). Carlos Miguel Tejada Artigas,p.111 ------------------------- CAPÍTULO 5 A PARTICIPAÇÃO DO BIBLIOTECÁRIO NA GESTÃO DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO INSTITUCIONAL Lillian Alvares Bianca Amaro Tainá Batista de Assis Resultado do crescente amadurecimento das coleções digitais, o tema preservação digital ganha evidência, dada a necessidade de planejamento de longo prazo que assegure o acesso, o uso e a salvaguarda de tais recursos. O relatório do Research Libraries Group, da Online Computer Library Center (OCLC), já em 2002, definia o termo preservação digital como "o conjunto de atividades a serem gerenciadas para garantir a manutenção de longo prazo de uma sequência de bytes, bem como a acessibilidade continuada ao seu conteúdo" (OCLC apud Pavani, 2014, tradução nossa). Nota-se que as questões que têm relação com a preservação digital há muito vêm sendo objeto de preocupação na sociedade digital. Entretanto, todo o processo relacionado com materiais de natureza digital - ou seja, coleta, gerenciamento, acesso e preservação - ainda está por desenvolver-se em grande parte das instituições e mais especificamente nas bibliotecas. Há Lillian Alvares, p.147 A conceituação dada pelo Digital Curation Center 1 (DCC) (Siebra, 2014) de curadoria de dados está relacionada com a ideia de manter e agregar valor à informação digital, tanto para uso atual quanto futuro, e envolve a gestão ativa e a preservação de recursos digitais durante todo o ciclo de vida do dado digital, enquanto houver interesse do mundo acadêmico e científico. Do conceito para curadoria de dados, pode-se de imediato afirmar a necessidade de definição e utilização de padrões para a gestão, por parte dos bibliotecários dos dados armazenados nas novas tecnologias trazidas pelas humanidades digitais. Interessante mencionar que Abbott (2008) afirma que a curadoria digital é mais ampla que a preservação digital, uma vez que envolve todas as atividades relacionadas à gestão dos dados. O desenvolvimento de novas ferramentas e padrões e os meios digitais tornaram-se cada vez mais complexos. Os curadores digitais, aqui considerados no âmbito da biblioteca e do novo papel do bibliotecário, devem se envolver com a tecnologia e os padrões e estarem atentos aos seus desenvolvimentos, a fim de manter os seus conhecimentos atualizados em um setor que muda rápido e constantemente. A curadoria de dados, de fato, apresenta oportunidades para encontrar novas maneiras de valorizar o espaço da biblioteca e distinguir as habilidades dos bibliotecários de dados, nova terminologia que designa e expressa com clareza esse novo papel. Segundo Swan e Brown apud Rodrigues et al. (2010), os profissionais que venham a se dedicar à curadoria de dados Lillian Alvares, 149 ----------------------- CAPÍTULO 6 BIBLIOTECAS E MÍDIAS SOCIAIS Cláudio Gottschalg-Duque As bibliotecas continuarão sendo centros informacionais, centros comunitários que contêm ambientes propícios ao estudo pessoal, bem como para a aprendizagem colaborativa, ou terão de se reinventar como "meras" provedoras de serviços e produtos digitais? Cláudio Gottschalg-Duque, p.157 Basicamente, as mídias sociais são grupos formados e alimentados por usuários que interagem devido a um determinado tópico/assunto e, justamente devido a esta característica, e não podemos desconsiderar os grupos anteriores às novas tecnologias, são consideradas tecnologias digitais. Cláudio Gottschalg-Duque, p.157 A biblioteca digital armazena registros disponibilizados em formato digital, de bits e bytes, em um sistema computadorizado, atualmente sempre em rede, permitindo assim o seu acesso remoto. De acordo com a Digital Library Federation (DLF), as bibliotecas digitais são: organizações que fornecem os recursos, incluindo o pessoal especializado, para selecionar, estruturar, oferecer acesso intelectual, interpretar, distribuir, preservar a integridade e assegurar a persistência ao longo do tempo de coleções de obras digitais de modo que elas sejam facilmente e economicamente disponíveis para uso por uma comunidade definida ou conjunto de comunidades (DLF, 1998). Cláudio Gottschalg-Duque, p.161 A Ifla juntamente com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 2011, emitiu um manifesto para as bibliotecas digitais, este documento postula que operacionalmente as sociedades em todo o mundo podem se beneficiar com esse tipo de sistema informacional, as bibliotecas digitais. O manifesto salienta ainda que a comunicação é o verdadeiro foco das TICs e as bibliotecas digitais, devido às suas características, tais como alcance global, fácil e democrático acesso e disponibilidade 24 horas por dia, 365 por ano, podem e devem se tornar importantes instrumentos de auxílio à inclusão digital no mundo. As bibliotecas digitais vão de encontro às mídias sociais (Alia, 2014). Bibliotecas digitais podem disponibilizar serviços de mídias sociais, embora esse não seja o objetivo. As mídias sociais podem promover a aceleração da inovação em bibliotecas tradicionais e digitais, pois essas ferramentas permitem mais visibilidade e interatividade para as bibliotecas (Kroski, 2009; Khan e Bhatti, 2012). Cláudio Gottschalg-Duque, p.161 As mídias sociais são entendidas como grupos, comunidades - alguns autores utilizam o termo "redes" para definir tipos específicos de mídias sociais digitais, como o Facebook, por exemplo (Boyd e Ellison, 2007) - cujos membros produzem e trocam informação entre si sobre determinado tópico/assunto específico. Esse conceito precede a própria existência da internet, porém, a denominação mídias sociais não era formalizada e, portanto, não utilizada como designação desses grupos. Cláudio Gottschalg-Duque, p.161 Algumas características mais preponderantes desses grupos são as seguintes. 1) Temática centrada: os grupos são formados em torno de um determinado tópico, o cerne da questão. Este núcleo permeará toda e qualquer produção de informação e é o foco central de todos os debates. 2) Produção de conteúdo informacional de maneira descentralizada e sem um controle formal, não existe a figura de um “editor-chefe”, alguns grupos nem chegam a ter moderadores/censores de conteúdo. 3) Uso maciço de tecnologias da informação e comunicação. Os usuários da informação se utilizarão do recurso de TIC disponível no momento. Quanto mais simples, eficiente e eficaz (usabilidade, ergonomia, acessibilidade), mais adotada é a tecnologia. Cláudio Gottschalg-Duque, p.162 Em 2006, foi criado nos Estados Unidos um projeto de dois anos intitulado The net generation: a strategic investigation, realizado pela New Paradigm/nGenera ao custo de US$ 4 milhões, com o patrocínio de grandes empresas. Esse estudo, coordenado pelo pesquisador Don Tapscott contou com a colaboração de cerca de 10 mil representantes das gerações internet (Y), X e baby-boomers de todo o mundo. Esses participantes foram entrevistados presencialmente e pela internet. Além disso, acadêmicos, pesquisadores, líderes empresariais, educacionais e governamentais também foram ouvidos (Tapscott, 2008). Cláudio Gottschalg-Duque, p.162 ------------------------ CAPÍTULO 9 BIBLIOTECAS E LIVROS DIGITAIS: BREVE HISTÓRIA E NOVOS DESAFIOS Liliana Giusti Serra A evolução do livro digital possui alguns pontos de destaque, como a divulgação de conceitos e ideias, o lançamento de dispositivos e a oferta de conteúdo. De acordo com Votsch2 (1999 apud Henke, 2001, p. 10), os livros digitais iniciaram-se com os conceitos de Bush e Kay e, posteriormente, com a aplicação destes na iniciativa do Projeto Gutenberg, somado à oferta de novos dispositivos de leitura. Segundo Armstrong e Lonsdale (2011, p. 21), a primeira idealização dos livros digitais é feita por Vannevar Bush. Em 1945, Bush - um engenheiro militar norte-americano que, durante a Segunda Guerra Mundial, coordenou o Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento Científico dos Estados Unidos (OSRD - em inglês, Liliana Giusti Serra, p.224 U.S. Office of Scientific Research and Development) – publicou o artigo As we may think, na revista Atlantic Magazine. Esse artigo apresentava o conceito de memória expandida (Memex), que vislumbrava um equipamento em que fosse possível ao leitor armazenar seus livros, suas anotações, suas imagens, seus sons, seus gráficos e quaisquer outras informações representadas em formatos e suportes variados, que poderiam ser acessados a qualquer momento, de acordo com a necessidade do solicitante. Esse equipamento possuiria telas para leitura e acesso ao conteúdo, teclado para efetuar buscas ou acrescentar anotações e comentários e superfície para captura de imagens (scanner), que permitiria agregar novos registros ao conjunto existente. A tela seria sensível ao toque, oferecendo condições para pesquisa e leitura. Possibilitaria também a realização de ligação entre os registros (links), proporcionando navegação entre uma informação e outra. Esse conceito introduzia a funcionalidade do hiperlink. Tempos depois, em 1968, foi lançado o protótipo do primeiro dispositivo de leitura. O Dynabook foi desenvolvido por Alan Kay, um pesquisador do Laboratório do Centro de Pesquisas da Xerox em Palo Alto (Xerox Palo Alto Research Center Laboratory), e foi concebido para ser utilizado por crianças e estudantes. Seu formato era similar aos tablets atuais e permitia leitura de livros em tela, além da possibilidade de escrever, desenhar e acessar conteúdos de sons e imagens. O dispositivo possuía linguagem proprietária denominada de Smalltalk e foi lançado comercialmente em 1984, com o nome GRID Personal. Bush lançou a ideia, Kay criou o equipamento e Michael Hart ofereceu o conteúdo. O Projeto Gutenberg3 foi lançado em 1971, ofertando acesso a obras em domínio público. O primeiro texto disponibilizado foi a Declaração de Independência dos Estados Unidos... Liliana Giusti Serra, p.225 Analisando-se a recente história dos livros digitais, é possível identificar quatro gerações. Segundo Towle (2007, p. 63), a primeira geração é marcada pela oferta de obras em CD-ROM, com a leitura sendo mediada por computadores. A partir da década de 1980, foram lançados diversos dispositivos de leitura dedicados. Como esses dispositivos possuíam formatos proprietários e conteúdo produzido e disponibilizado pelos próprios fabricantes, em vez de serem uma opção de acesso a livros digitais, foram identificados como produtos, o que causou uma problematização para distinguir o livro do equipamento. Como existia dependência do equipamento em que o conteúdo estava armazenado, essas primeiras iniciativas confundiam os leitores, que identificavam o equipamento como o livro digital (Armstrong e Lonsdale, 2011), e não com o conteúdo que este encerrava, situação que ainda é observada nos dias de hoje. O dispositivo de leitura é o equipamento que mediará a leitura; não é o livro digital. Liliana Giusti Serra, p.226 De acordo com Rao (2005, p. 118), a segunda geração de livros no formato eletrônico iniciou-se na década de 1990, com a web disponibilizando o conteúdo e a troca de arquivos, com a portabilidade sendo favorecida. Aquele período também foi marcado pelo lançamento do formato PDF... Liliana Giusti Serra, p.226 A terceira geração é marcada pelo desenvolvimento do formato ePUB5 e pelo lançamento do dispositivo Kindle, em 2007, pela Amazon.6 Segundo Bennet (2011, p. 225), 2007 pode ser considerado um marco na história dos livros digitais. A consolidação do ePUB como formato foi resultado da presença de mais recursos, em comparação ao PDF. Liliana Giusti Serra, p.227 Como os demais dispositivos não provocaram apelo aos leitores, pode-se afirmar que os livros digitais começaram sua popularização após o Kindle e exigiram esforços de casas editorais para ampliação da oferta de títulos disponíveis. Em 2010, foi lançado o tablet iPad pela Apple. Diferentemente do Kindle, o iPad é um equipamento que proporciona flexibilidade ao leitor; afinal, não é um equipamento dedicado, mas convergente, que possui outras funcionalidades além da leitura de livros (Nogueira, 2013, p. 77). Liliana Giusti Serra, p.227 Um dos impedimentos observado da inclusão de livros digitais em bibliotecas é decorrente de fornecedores. Apesar de as bibliotecas poderem adquirir livros digitais em livrarias virtuais, essas ferramentas são construídas com foco no leitor, com o download da publicação realizado no dispositivo, com restrições para transferência do arquivo para armazenamento em servidores ou repositórios. Liliana Giusti Serra, p.228 Tipos de conteúdos digitais Os livros digitais podem ser de natureza aberta ou licenciada. As obras de acesso aberto são formadas por títulos que possuem as características descritas a seguir. 1) Obras em domínio público: publicações cujos direitos autorais já expiraram. O prazo para a entrada de títulos em domínio público é regido pela legislação de cada país. No Brasil, de acordo com a Lei de Direitos Autorais (Lei no 9.610, de 19 de fevereiro de 1998), um autor entra em domínio público no primeiro dia do ano após completados setenta anos de seu falecimento (Brasil, 1998). Após esse período, as obras podem ser utilizadas sem que ocorra remuneração de direitos autorais ao autor, a seus herdeiros ou a representantes legais, sempre se citando a fonte. 2) Obras protegidas por direitos autorais cujos autores abriram mão de remuneração: essa situação é frequente em instituições de ensino e pesquisa, com o intuito de circulação do conhecimento produzido, muitas vezes com autores vinculados a instituições públicas. Essas obras são protegidas e as fontes devem ser citadas; porém, não é realizado pagamento para acesso ou utilização do conteúdo. Em muitos casos, são aplicadas as licenças definidas pelo Creative Commons8 (CC), que estipula o uso que pode ser realizado dos recursos. São disponibilizadas seis opções de licença CC: atribuição (CC BY), atribuição compartilha igual (CC BY-SA), atribuição sem derivações (CC BY-ND), atribuição não comercial (CC BY-NC), atribuição não comercial compartilha igual (CC BY-NC-SA) e atribuição não comercial sem derivações (CC BY-NC-ND). 3) Obras gratuitas: publicações que são oferecidas sem remuneração. A oferta das obras pode ser motivada pelo autor – nos casos de autopublicação – ou pelo fornecedor. Usualmente, são disponibilizadas sem tratativas comerciais do conteúdo, com o intuito de divulgação da obra, ou – quando vinculado a um fornecedor – com objetivos de divulgação e comercialização de dispositivos de leitura, promoções ou demais estratégias comerciais. Embora gratuitas, a fonte deve ser citada. Liliana Giusti Serra, p.230 Livros digitais usualmente utilizam ferramentas de DRM para controlar o uso que será feito do conteúdo, e o acesso é, via de regra, monousuário (um livro, um acesso), com opções de simultaneidade que podem ser contratadas de acordo com a estrutura da plataforma do fornecedor, refletindo diretamente nos valores do licenciamento. Liliana Giusti Serra,p.231 9. O digital rights management (DRM) é uma ferramenta que pode ser aplicada em recursos digitais, com o intuito de inibir utilizações indevidas, como a realização de cópias, a distribuição ilegal ou o uso não autorizado de material licenciado. Possui a funcionalidade de um cadeado que – em combinação com o dispositivo e o formato do livro digital – identifica o direito associado à mídia, garantindo que a solicitação de acesso seja oriunda de leitores autorizados. Liliana Giusti Serra,p.231 Fornecedores e formas de licenciamento Os editores são os profissionais do livro. São empresas que representam os autores e publicam suas obras, respondendo pela criação editorial, divulgação, distribuição e venda. Distribuidores são empresas que não publicam obras, mas as comercializam, com permissão dos editores ou agregadores que representam. São intermediários, e, em decorrência disso, os custos cobrados costumam ser mais altos em comparação aos editores. A contrapartida é que o processo de aquisição é facilitado, com o contato sendo mantido com apenas um vendedor, que possibilita a compra de títulos de diversas casas publicadoras. Ao licenciar livros digitais por meio de distribuidores, o acesso ao conteúdo será realizado pela plataforma do representante do conteúdo, seja ele o editor ou o agregador. Os agregadores de conteúdo são empresas que comercializam títulos de editores, porém em plataformas próprias. O fato de terem plataforma distingue-os dos distribuidores, que, ao finalizarem o processo de contratação, entregam os livros digitais nas plataformas oferecidas pelos respectivos fornecedores de cada título. O editor pode ter uma plataforma, e seu conteúdo pode ser disponibilizado por esta e/ou pelos agregadores. Caso a editora não tenha interesse em investir em plataformas, pode tornar seu conteúdo disponível para bibliotecas por meio dos agregadores. Pode ocorrer do editor possuir plataforma própria e também disponibilizar seus títulos para comercialização por agregadores, o que aumenta as possibilidades de realização de licenciamentos (figura 1). Os agregadores também são intermediários, mas costumam oferecer condições competitivas em relação aos distribuidores. Suas plataformas proporcionam segurança ao editor e oferecem gama de serviços diversos aos leitores. Os serviços disponibilizados (impressão, realização de download, empréstimo digital, reservas, aquisição do conteúdo - total ou parcial - por parte do usuário etc.) dependem da funcionalidade da plataforma. Liliana Giusti Serra,p.232 ---------------------------------- CAPÍTULO 10 OS SERVIÇOS DE REFERÊNCIA: MUDANÇAS, DESAFIOS E OPORTUNIDADES NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO Alejandra Aguilar Pinto1 CAPÍTULO 11 O USO DE TECNOLOGIAS MÓVEIS EM BIBLIOTECAS David Vernon Vieira |