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Bibliotecas Vivas: as bibliotecas públicas que queremos - Notas de biblioteca 6
Tradução e adaptação pelo Siseb de obra de Gloria María Rodríguez Santa María
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BIBLIOTECONOMIA - BIBLIOTECA VIVA
 
“Bibliotecas Vivas: as bibliotecas públicas que queremos”

Tradução e adaptação do volume produzido pela Biblioteca Nacional da Colômbia.

Notas de Biblioteca nasceu no V Seminário Internacional de Bibliotecas Públicas e Comunitárias, quando convidamos a bibliotecária colombiana Gloria María Rodríguez Santa María para apresentar a palestra “Bibliotecas Públicas e Comunidade: das boas intenções às ações”. Também nessa oportunidade conhecemos a publicação “Bibliotecas Vivas: as bibliotecas públicas que queremos”, destinada aos profissionais da área, produzida pela Biblioteca Nacional da Colômbia.
 
Bibliotecas Vivas: as bibliotecas públicas que queremos - Notas de biblioteca 6

Temos ouvido falar em Bibliotecas Vivas, mas o que realmente isso significa? E como podemos qualificar os espaços hoje existentes nos diversos municípios seguindo esse conceito?
Sabemos que muitas bibliotecas já estão neste caminho. Entenderam que precisam compreender mais a comunidade a que servem e, com isso, vêm estruturando e oferecendo novos serviços e programas. Temos investido esforços para divulgar essas experiências no âmbito do estado e do país. p.6

A ideia tradicional de que a biblioteca pública é um lugar só para estudar, onde se facilita a jovens e crianças o acesso a livros para que façam suas tarefas, e que é um lugar passivo, um depósito silencioso e em perfeita ordem, onde o bibliotecário se limita a dar informação apenas a quem entra e a solicita, está mudando.

Assiste-se agora a um período de transição e renovação, no qual a biblioteca pública começa a ser compreendida como uma instituição de caráter social e cultural, que se articula com a comunidade a qual serve, trabalha com acerto, é bem-dotada, se conecta com o mundo através das novas tecnologias, e pode incidir de maneira favorável no melhoramento social e na participação cidadã.

A biblioteca pública moderna se concebe atualmente como um projeto de formação de cidadãos, fomentando a relação cotidiana das pessoas e das comunidades com a leitura, a escrita e o aprendizado permanente e a vida da comunidade, bases fundamentais sem as quais a democracia e o respeito não são possíveis. A biblioteca pública tem o objetivo de trabalhar em três frentes para favorecer o desenvolvimento social e humano: a leitura, a informação e a cultura. Deve, também, estar a serviço da criatividade e da inovação e oferecer seus recursos para que isso seja possível.

No campo da leitura, a biblioteca deve procurar que todos os habitantes da comunidade, desde as crianças até os adultos e idosos, pratiquem a leitura e a escrita como uma atividade a mais na sua vida cotidiana, pois ler e escrever são ferramentas para o aprendizado permanente e a participação plena como cidadãos.

No campo da informação, deve esforçar-se para conseguir que as pessoas aprendam a usá-la e a saber quando a necessitam. A biblioteca põe à disposição do público a informação de forma organizada para que ela seja utilizada nas mais diferentes situações da vida.

No campo cultural, a biblioteca deve trabalhar com a comunidade para que as pessoas se identifiquem com a sua cultura, a desfrutem e a preservem. Quando uma biblioteca pública se compromete com seriedade nesses campos, pode-se dizer que é verdadeiramente um instrumento de mudança social e um espaço para o exercício dos direitos de cidadania.
p.10

As bibliotecas também têm um papel importante em ações relacionadas à pesquisa, criação e inovação. Mais além da escola, que tem um currículo estabelecido, a biblioteca pode ser um local interessante para contato com outras pessoas e o acesso à informação, permitindo o desenvolvimento de projetos criativos, culturais, empresariais e de meio ambiente, entre outros.

Nas cidades grandes ou pequenas, os habitantes necessitam aprender, manter-se informados, comunicar-se com outros, continuar a sua formação, reunir-se, resolver problemas, desfrutar do tempo livre, tomar decisões individuais ou coletivas, discutir temas de interesse comum ou simplesmente conhecer os acontecimentos e planos das comunidades. A biblioteca pública é um espaço privilegiado para realizar estas atividades.

Existem, também, tantos outros lugares para essas atividades, tais como debaixo da árvore na praça, no armazém da esquina, no cybercafé, na casa, na escola ou na igreja, por que ir para a biblioteca pública? Porque a biblioteca é gratuita e para todos. Ali se encontra apoio e orientação por parte do bibliotecário, é um lugar agradável para a leitura e nela se reúnem elementos que facilitam o acesso à informação. A biblioteca convida pais com seus filhos de todas as idades, líderes comunitários, donas de casa, desempregados, professores, aposentados, artistas, empresários… Não importa o sexo, a idade, a religião, a convicção política ou estilo de vida, pois a biblioteca oferece algo diferente a cada um.

A biblioteca não é somente um lugar para fazer tarefas. É um lugar para encontrar-se com outras pessoas e um lugar para reunir-se consigo mesmo através da leitura, com autores vivos e mortos, com obras de arte, com o conhecimento científico e com a informação de toda natureza.
p.10

Hoje, graças às tecnologias da informação e as comunicações, a biblioteca é, também, um lugar onde se pode adquirir conteúdos, participar de redes sociais, culturais e de conhecimento.

Em uma biblioteca são oferecidas a todos os visitantes e usuários oportunidades de leitura, aprendizado e informação, colocando à livre disposição do usuário materiais em diferentes suportes e formatos: livros de literatura, tiras cômicas, obras de ciência e tecnologia, acesso à Internet, conferências, exposições, filmes, bases de dados, obras de referência, revistas, periódicos, música, informação sobre a localidade, entre outros.

(...) o caráter público não é atribuído pela dependência institucional das bibliotecas ou por seu financiamento, mas pelo cumprimento de um conjunto de condições, particularidades e missões pelas quais se chamam de públicas, entre as quais estão as seguintes:

» seus serviços são gratuitos;
» atendem a todo tipo de usuários;
» atendem a todos os grupos etários;
» existe liberdade de entrada e utilização de serviços sem inscrição ou registro;
» inclui aqueles que são tradicionalmente marginalizados do acesso à cultura escrita;
» oferecem igualdade de oportunidades à cultura, à informação e ao conhecimento;
» atendem às necessidades locais e enfatizam o conhecimento e a interpretação do entorno;
» vão além das suas fronteiras em busca do leitor e usuário em potencial;
» planejam e oferecem serviços para diferentes segmentos da população;
» oferecem serviços múltiplos e representativos da diversidade cultural e linguística;
» conhecem a comunidade, suas características e necessidades e, em função delas, oferecem seus serviços, coleções e programas;
» estão articuladas com outras instituições da comunidade e são reconhecidas como um dos principais lugares para acesso à informação, leitura e conhecimento;
» estão comprometidas com a educação permanente e as diferentes etapas da vida;
» têm variedade de coleções que respondem à diversidade de interesses e leitores;
» oferecem materiais de leitura em todas as áreas do conhecimento e em diversos formatos;
» oferecem múltiplos suportes e formatos para atender àqueles que apresentam dificuldades para ler e escrever;
» e, finalmente, são instituições democráticas, pois nela todos são acolhidos sem distinção.

p.12

É possível que dentre as doze finalidades estabelecidas pela Unesco para a biblioteca pública, algumas reflitam suas próprias necessidades ou as de sua comunidade.

1. Criar e fortalecer os hábitos de leitura nas crianças, desde a primeira infância;
Quero uma biblioteca que me apoie para que meus filhos se aproximem dos livros e que possam ser melhores leitores que eu.

2. Apoiar a educação individual e a auto formação, assim como a educação formal a todos os níveis;
Quero uma biblioteca em que eu encontre livros de panificação para poder fazer meu próprio pão e montar meu próprio negócio. Quero uma biblioteca que me apoie para que meus filhos se aproximem dos livros e que possam ser melhores leitores que eu. E onde eu possa encontrar revistas de artesanato para que minha esposa tenha mais ideias para seu trabalho e que meu filho possa encontrar informações para seu projeto sobre o meio ambiente.


3. Assegurar a cada pessoa os meios para evoluir de forma criativa;
Queremos uma biblioteca onde meus amigos e eu tenhamos a possibilidade de participar de clubes de leitura, leituras em voz alta, ciclos de conferencias, reuniões sobre temas científicos ou de desenvolvimento social e humano, oficinas de criação literária e outras atividades interessantes.

4. Estimular a imaginação e criatividade das crianças e dos jovens;
Queremos uma biblioteca que ofereça programas divertidos como debates sobre rock, clubes científicos, clubes de contos, oficinas de desenho e grafite, conferencias sobre motociclismo e outras coisas do gênero.


5. Promover o conhecimento sobre a herança cultural, o apreço pelas artes e pelas realizações e inovações científicas;
Queremos uma biblioteca que nos ajude a registrar o conhecimento de nossos avos sobre nosso município transmitido através da tradição oral e que se encarregue de organiza-lo e guarda-lo para que nossos filhos e netos possam conhecer e desfrutar disso no futuro.

6. Possibilitar o acesso a todas as formas de expressão cultural das artes do espetáculo;
Queremos uma biblioteca onde possamos desfrutar em família de apresentações de filme, música, teatro e outras programações culturais as quais, normalmente, não temos acesso.

7. Fomentar o diálogo intercultural e a diversidade cultural;
Quero uma biblioteca onde se possa conhecer mais sobre as diferentes etnias que chegaram ao meu município, dialogar com seus representantes e conhecer sobre sua cultura e, também, contar a outros sobre a minha cultura.

8. Apoiar a tradição oral;
Quero uma biblioteca onde se colete e difunda o melhor da tradição oral da minha comunidade e meu pais: vozes, cantos, rimas, versos, jogos de palavras, mitos, lendas, contos tradicionais e poesia popular.

9. Assegurar o acesso dos cidadãos a todos os tipos de informação da comunidade local;
Quero uma biblioteca que me ofereça possibilidades de conhecer meu município, de gostar dele, de saber que projetos são desenvolvidos nele e onde posso conseguir informações sobre oportunidades educativas, eventos, tramites legais e processuais e serviços.

10. Proporcionar serviços de informação adequados às empresas locais, associações e grupos de interesse;
Queremos uma biblioteca onde encontremos informações uteis para montar uma empresa familiar de geleias.

11. Facilitar o desenvolvimento da capacidade de utilizar a informação e a informática;
Quero uma biblioteca onde meu pai possa aprender a usar os computadores e possa comunicar-se pela Internet com sua irmã.

12. Apoiar, participar e, se necessário, criar programas e atividades de alfabetização para os diferentes grupos etários.
Queremos uma biblioteca que também pense naqueles que não sabem ler nem escrever, mas que gostam de escutar a leitura em voz alta.

p.15-17

Nem todas as bibliotecas são para todos os públicos. Existem bibliotecas patrimoniais, como a Biblioteca Nacional, encarregada de coletar e preservar as publicações editadas no país e sobre o país, assim como centros de documentação e bibliotecas especializadas onde se preserva o material institucional e de pesquisa para uso de especialistas.
p.22
serviço de extensão bibliotecária, que são os serviços e as atividades próprias biblioteca exercidos fora dela.

Os que não estão interessados em utilizar a biblioteca
É comum escutar expressões como “não necessito consultar porque faz muito tempo que deixei de estudar,” “lá só vão estudantes e não é para mim”, “creio que esse lugar é só para pessoas que estão estudando, como não estudo, não tenho motivo para ir lá” ou “para que vou se posso encontrar tudo na Internet?”.

Apresentações de filmes, exposições, oficinas, programas de formação, concertos, são convites para que gente que não conhece a biblioteca se atreva a entrar e a aceite. Ou seja, que descubra suas possibilidades e possa fazer uso delas. A realidade é que muitas pessoas acham que a biblioteca não é útil para elas, ou, simplesmente, não sabem de sua existência e provavelmente nunca se aproximarão da leitura se os livros e os materiais não forem a sua procura. Isso é o significado dos programas de extensão, que estabelecem laços e relações com aqueles denominados usuários.
p.24

» Conheça, em primeiro lugar, como está composta sua comunidade, quais são os grupos populacionais que a habitam, se são de comunidades rurais, de outras localidades, locais de idosos, grupos étnicos, mães comunitárias, ONG ou líderes comunitários, entre outros.

» Faça com que crianças e jovens que a frequentam, somente para solucionar tarefas escolares, se convertam em usuários para toda a vida, interessando-os em temas que vão além de seus compromissos acadêmicos: música, filme, mecânica, histórias em quadrinhos, computadores, esporte, arte e ciência, por exemplo.

» Não desperdice nenhuma oportunidade para aproximar os adultos do mundo da leitura, especialmente por meio dos filhos que já visitam a biblioteca.

» Convide grupos organizados da comunidade: clubes de pessoas idosas, clubes de passeios a pé, escolas de pais, grupos culturais... Muita gente, ainda que saiba onde está a biblioteca, não virá a menos que receba um convite.

» Interaja e estabeleça parceria com as outras instituições e organizações da comunidade, com a administração municipal, com as instituições educativas, com a emissora local, com a igreja, com as organizações não governamentais, com as universidades ou institutos de educação superior.

» Focalize sua atenção nos grupos que não contam com serviços bibliotecários: donas de casa, desempregados, jovens fora da escola e anciões, entre outros.

» Interesse-se pelas pessoas que alguma vez utilizaram a biblioteca e não retornaram. Indague seus motivos.

» Leve material de leitura a locais onde as pessoas trabalham, vivem, passeiam, fazem suas compras e se distraem. » Ofereça programas que incluam,

» Tenha coleções em diferentes suportes e formatos, não somente impressos. Considere os livros falados, CD de música, vídeos e software para atrair pessoas com pouca experiência leitora.

» Organize ao menos uma atividade mensal para pessoas que estejam reclusas. Procure o apoio de voluntários, amigos da biblioteca e das mesmas instituições onde essas pessoas se encontram.

» Aproveite as tecnologias para que os usuários – que estejam afastados fisicamente – encontrem e recebam informações da biblioteca: agendas de atividades, livros recomendados, novos materiais e respostas às sugestões, por exemplo. concomitantemente, vários membros da família: mães e bebês, netos e avós, pais e filhos, crianças e irmãos maiores, entre outros.
p.26

O bibliotecário bem sucedido é aquele que, com seu compromisso e sua habilidade gerencial, é capaz de liderar e apoiar processos comunitários referentes à leitura, escrita, informação e aos serviços da biblioteca. Sua missão é contribuir para que sua comunidade cresça, amadureça e possa se desenvolver. O bibliotecário é também, por excelência, um gestor cultural devendo aprender, na biblioteca, a combinar a gestão técnica com a função social.
p.27

O que faz um bibliotecário?
O papel e o perfil do bibliotecário público no contexto nacional têm sido motivo de reflexões. Diz-se, por exemplo, que o desempenho de uma biblioteca deve-se mais à gestão do bibliotecário do que ao tamanho do prédio, à quantidade de obras e à organização da coleção. Se quisermos que a biblioteca pública seja uma instituição promotora de mudança social e que contribua para o desenvolvimento comunitário é necessário que os bibliotecários participem e estimulem processos sociais que ajudem a melhorar a vida dos indivíduos e das comunidades.
p.28

O bibliotecário comprometido não se limita, somente, a atender aos usuários que necessitam de informação e a manter a biblioteca organizada. Seu papel vai muito além: conhecer os habitantes de sua comunidade; fazer gestões para inserir o projeto bibliotecário nos planos de desenvolvimento local; propor e executar atividades relativas à leitura e à informação; conseguir fundos para melhoria dos recursos tecnológicos; e, relacionar e participar dos projetos das instituições e grupos organizados da comunidade. Além disso, deve conhecer e explorar os recursos de sua coleção, saber que tipos de obras estão disponíveis, do que tratam, onde se localizam, o que falta, o que é mais usado e qual a aquisição que se faz necessária.

O bibliotecário deve ser um líder e, acima de tudo, um gestor cultural. Deve reconhecer que a cultura é um insumo fundamental para seu trabalho e compreender que a biblioteca pública é, essencialmente, uma instituição social e cultural exigindo, portanto, um contato permanente com a administração municipal, as instituições educacionais, as empresas, o comércio, as organizações religiosas, os hospitais e prisões, visitando e promovendo os serviços, buscando, assim, novos leitores.

Quais são as qualidades de um bibliotecário? Ser bibliotecário é ser também um leitor: leitor de livros e de seu entorno. É ser o interlocutor da comunidade e ter plena consciência da função política, social e educativa da biblioteca pública.

p.28



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